Os polinizadores estão em crise. Com as comunidades de polinizadores selvagens diminuindo a taxas alarmantes em todo o mundo, cresce a preocupação com o futuro dos ecossistemas e da produção de alimentos. Tais preocupações são bem fundamentadas, pois 85% das plantas do mundo dependem de animais para polinização, incluindo 70% das colheitas que cultivamos são para nosso próprio consumo. Uma das razões por trás de um declínio tão dramático é a transformação de sítios naturais em paisagens urbanas — um processo que não mostra sinais de abrandamento, com uma estimativa 68% da população mundial viverá em cidades até 2050.
No entanto, embora as cidades possam não parecer lares ideais para polinizadores selvagens, pesquisadores descobriram que espaços verdes urbanos — como parques e jardins — são refúgios cada vez mais importantes, às vezes oferecendo uma tábua de salvação para espécies que lutam em ambientes mais degradados. Como resultado, cientistas e planejadores urbanos começaram a trabalhar juntos para desenvolver estratégias que tornem as cidades mais favoráveis aos polinizadores. Uma solução óbvia seria plantar mais flores, mas um estudo recente de Serena Sinno e colegas mostra que atrair abelhas selvagens não é apenas uma questão de quantidade, mas de variedade floral.
A equipe de pesquisa selecionou 16 espaços verdes — incluindo jardins comunitários, parques e cemitérios — espalhados por Montreal, no sudeste do Canadá. Em cada local, eles montaram pequenas parcelas e coletaram abelhas usando armadilhas que imitam flores ou redes. Eles também catalogaram todas as plantas com flores em cada parcela e mediram duas características conhecidas por afetar a visita das abelhas: o comprimento dos tubos florais e a concentração de açúcar no néctar.

Os pesquisadores descobriram que a diversidade de abelhas selvagens era maior em locais onde as flores apresentavam maior variedade de comprimentos de tubo floral. Isso é particularmente interessante, visto que o tamanho médio da flor não afetou significativamente a diversidade das abelhas. Como as abelhas têm tamanhos e comprimentos de língua diferentes, elas tendem a visitar flores que se encaixam em sua morfologia — assim como você não usaria um canudo muito curto para alcançar uma bebida. Abelhas com língua curta evitam flores profundas, enquanto abelhas com língua longa podem acessá-las com facilidade. Portanto, uma mistura de formatos de flores, em vez de muitas flores do mesmo tamanho, significa que há algo para todos — permitindo que mais espécies de abelhas encontrem uma boa combinação.
Dito isso, a ideia de que mais flores atraem mais abelhas ainda se mantém, já que o estudo constatou que o aumento da cobertura floral também estava associado a uma maior diversidade de abelhas. Portanto, para garantir que nossas cidades sejam favoráveis às abelhas, precisamos combinar a abundância de flores com uma rica variedade de formatos.
Embora o néctar desempenhe um papel crucial na dieta das abelhas, a concentração de açúcar no néctar não foi claramente associada à diversidade das abelhas no estudo de Sinno. No entanto, os autores observam que não devemos descartar a doçura do néctar ainda, pois mais pesquisas são necessárias para compreender completamente os recursos nutricionais que nossas cidades fornecem às abelhas e outros polinizadores.
Em última análise, esta pesquisa oferece a urbanistas, jardineiros e até mesmo entusiastas de plantas de varanda uma maneira prática de ajudar os polinizadores: plante generosamente e com variedade em mente. De tubos longos a flores abertas, quanto mais variados os formatos das suas flores, maior a probabilidade de seu canteiro ser um sucesso estrondoso. Essa percepção simples e bela pode mudar a forma como projetamos espaços urbanos — e, com sorte, ajudar a transformar nossas cidades em oásis prósperos para abelhas e outros polinizadores.
LEIA O ARTIGO:
Sinno, S., MacInnis, G., Lessard, JP e Ziter, CD, 2025. Variação na morfologia das flores associada à maior diversidade de abelhas em espaços verdes urbanos. Aplicações Ecológicas, 35(1), pág.e3067. https://doi.org/10.1002/eap.3067

Victor HD Silva
Victor HD Silva é um biólogo apaixonado pelos processos que moldam as interações entre plantas e polinizadores. Ele está atualmente focado em entender como as interações planta-polinizador são influenciadas pela urbanização e como tornar as áreas verdes urbanas mais amigáveis aos polinizadores. Para mais informações, siga-o no ResearchGate como Victor HD Silva.
Tradução para o português por Victor HD Silva.
Foto da capa: Abelha em lavanda. Foto de jeans (Wikimedia Commons).
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