Imagine uma flor como um palco, com cada parte desempenhando um papel na grande performance da polinização. Bauhinia galpinii, uma planta nativa do sul e leste da África, alguns desses “atores” florais ocupam o centro do palco, enquanto outros permanecem como adereços silenciosos. Os estames, responsáveis pela produção de pólen, estão fazendo sua parte, mas ao lado deles estão estaminódios—estruturas estéreis que não produzem pólen, mas ainda assim chamam a atenção com seus formatos curiosos.
Essas flores quebram as regras tradicionais da família Fabaceae. Seus estames e estaminódios variam muito em tamanho e número, frequentemente formando arranjos únicos. Embora pesquisas anteriores tenham mostrado que modificações florais ajudam as plantas a se adaptarem a diferentes estratégias de polinização, pouco se sabe sobre como isso se aplica a Bauhinia galpinii.
Com isso em mente, Andrews VS Silva e sua equipe partiu para desvendar o mistério. Ao examinar as flores desta espécie usando várias técnicas de microscopia, eles pretendiam entender melhor como os estaminódios se desenvolvem e como eles interagem com os polinizadores.

Eles descobriram que as flores de Bauhinia galpinii são como pequenas tigelas vermelhas, perfeitamente projetadas para atrair e permitir o acesso aos seus polinizadores primários: borboletas rabo de andorinha. Sem obstáculos estruturais no caminho, as borboletas permanecem por mais tempo e, enquanto se alimentam, suas asas roçam nos órgãos reprodutivos, facilitando a transferência de pólen. As descobertas sugerem que Bauhinia galpinii priorizou o acesso dos polinizadores em detrimento da produção de pólen.

O tempo também desempenha um papel crucial. As flores abrem à noite e permanecem acessíveis durante todo o dia, com néctar que começa abundante pela manhã e se torna mais doce conforme o dia avança. Esse cronograma inteligente atrai as borboletas para visitar com mais frequência quando a concentração de açúcar é maior, aumentando as chances de polinização bem-sucedida.
Estas descobertas esclarecem mais do que apenas a biologia da Bauhinia galpinii: eles fornecem um excelente exemplo de como a complexa relação entre flores e polinizadores molda sua evolução. O estudo também revela como estruturas florais extras, como estaminódios, se adaptam para atender às necessidades reprodutivas e responder ao comportamento dos polinizadores. Isso abre portas para pesquisas futuras, oferecendo uma compreensão mais profunda da evolução das plantas e do papel vital dos polinizadores na manutenção dos ecossistemas.
LEIA O ARTIGO:
Silva, AVS, Johnson, SD, Mansano, VF, Ronse De Craene, LP, Pedersoli, GD e Paulino, JV (2024). O intrigante desenvolvimento do androceu em Bauhinia galpinii (Fabaceae) facilita a polinização pelas asas das borboletas. Perspectivas em Ecologia Vegetal, Evolução e Sistemática65, 125832. https://doi.org/10.1016/j.ppees.2024.125832
Victor HD Silva

Victor HD Silva é um biólogo apaixonado pelos processos que moldam as interações entre plantas e polinizadores. Atualmente, ele está focado em entender como a urbanização influencia as interações planta-polinizador e como tornar as áreas verdes urbanas mais amigáveis aos polinizadores. Para mais informações, siga-o em Bluesky e ResearchGate.
Foto da capa: Citrus swallowtail (Papilio demodocus) visitando Bauhinia galpinii. Foto de Steven D. Johnson.
A Semana na Botânica 31 de março de 2025
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