O comércio de plantas levou muitas plantas a viajarem pelo mundo, mas com elas vieram caronas menos bem-vindas. Horta Jung e colegas estudaram organismos minúsculos, mas destrutivos, chamados Phytophthora (destruidores de plantas) em florestas, rios e viveiros de árvores portugueses entre 2010 e 2015. Esses oomicetos, ou fungos aquáticos, são micróbios notórios pelos danos que podem causar às plantas. A equipe de pesquisa coletou amostras de 70 áreas florestais, 34 rios e 13 viveiros de árvores em todo o país. Eles encontraram esses patógenos em quase 90% das florestas, 97% dos rios e 92% dos viveiros amostradas, mas a maioria dessas espécies parece ter se originado fora de Portugal.
O patógeno mais disseminado, Phytophthora cinnamomi, foi encontrado em mais da metade dos locais florestais e viveiros, causando danos severos aos sobreiros e castanheiros. Árvores doentes tinham muito mais probabilidade de abrigar esses patógenos do que as saudáveis – 65% versus 10%. Os cientistas descobriram 15 espécies nunca antes vistas na Europa, incluindo várias completamente novas para a ciência. Das 48 espécies de Phytophthora encontradas, 34 (71%) foram introduzidas de outras partes do mundo, provavelmente por meio de séculos de comércio marítimo e comércio de plantas de Portugal.
Horta Jung e colegas caçaram Phytophthora usando três técnicas. Para florestas, eles coletaram solo ao redor de raízes de árvores e seções de casca doente. Para cursos d'água, eles flutuaram folhas de carvalho e alfarroba como isca, o que atraiu esporos nadadores de Phytophthora. Em viveiros, eles examinaram mudas de árvores doentes e de aparência saudável. De volta ao laboratório, eles usaram microscópios para estudar as características físicas de qualquer Phytophthora capturada e análise de DNA para identificar precisamente cada espécie encontrada.
O papel de Portugal como uma grande nação marítima desde 1400 fez dele um ponto de entrada essencial para plantas e seus patógenos de todo o mundo. Navios retornando de colônias no Brasil, África e Ásia trouxeram plantas exóticas que enriqueceram os jardins portugueses – hoje, quase 18% das plantas de Portugal vêm do exterior, a terceira maior proporção na Europa. Os primeiros sinais de caronas escondidas foram vistos em 1838, quando as castanheiras portuguesas começaram a morrer de uma misteriosa “doença da tinta”, muito antes de os cientistas entenderem o que a causava. Este estudo revela que cinco séculos de comércio de plantas deixaram um legado de patógenos que agora ameaçam as árvores nativas de Portugal.
Horta Jung, M., Maia, C., Mora-Sala, B., Abad-Campos, P., Schena, L., Mosca, S., et al. (2024). High diversity of Phytophthora species in natural ecosystems and nurseries of Portugal: Detrimental side effect of plant introductions from the age of discovery to modern globalization. Plant Pathology. https://doi.org/10.1111/ppa.14022 (OA)
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