A altitude desempenha um papel crucial na formação da biodiversidade. À medida que subimos montanhas, o ambiente fica mais desafiador: temperaturas mais frias, ventos mais fortes e menos oxigênio. Essas condições dificultam a vida prosperar, e menos espécies conseguem sobreviver à medida que subimos. Isso é especialmente perceptível com polinizadores, como abelhas, sendo substituídos por moscas em altitudes mais elevadas, o que afeta a forma como as plantas se reproduzem.
As plantas, em resposta, desenvolveram adaptações notáveis não apenas para sobreviver, mas —literalmente— florescer nesses ambientes desafiadores. Elas alteram o tamanho, a forma, a cor e a produção de néctar de suas flores para atrair o número limitado de polinizadores disponíveis. Algumas plantas até recorrem à autopolinização quando os polinizadores são escassos, demonstrando a resiliência e a adaptabilidade da natureza.
Para entender como a altitude influencia as características florais, as interações dos polinizadores e o sucesso reprodutivo nas plantas, Gisela T. Rodríguez-Sánchez e sua equipe estudou Oenothera epilobiifolia, uma planta polinizada por beija-flores dos Andes venezuelanos. Eles se concentraram em duas populações: uma a 3600 metros em Gavidia e outra a 4450 metros em Piedras Blancas. Os pesquisadores conduziram observações de campo, medições e experimentos.
Eles descobriram que no local de menor altitude, as flores são maiores, têm néctar mais doce e atraem mais polinizadores, especialmente beija-flores, produzindo mais sementes. Isso acontece porque altitudes mais baixas fornecem condições mais amenas, como temperaturas mais altas e melhor umidade do solo e nutrientes, promovendo flores maiores com néctar mais rico. Consequentemente, essas flores são mais atraentes para os polinizadores e levam a mais sementes graças à melhor polinização pelos beija-flores.
Em contraste, no local de maior altitude, as flores são menores com menos néctar doce, e apesar de mais flores serem embaladas juntas, menos polinizadores visitam. Isso ocorre porque altitudes mais altas têm condições mais severas com temperaturas mais frias, menos água e nutrientes no solo e luz solar mais forte. Essas condições dificultam o crescimento das plantas, resultando em flores menores com néctar menos atraente ao qual menos polinizadores estão adaptados.
Apesar dessas diferenças, a quantidade total de néctar e seu conteúdo energético foram semelhantes em ambas as populações. Isso ocorre porque, em altitudes mais elevadas, mais flores estão presentes em uma área menor, mesmo que sejam menores. O maior número de flores contribui para o néctar total disponível. Enquanto uma única flor pequena pode não produzir muito néctar, muitas flores pequenas aumentam o suprimento. Essa estratégia ajuda as plantas a atrair polinizadores em ambientes desafiadores.
Por fim, eles descobriram que as visitas dos polinizadores são mais influenciadas pela disponibilidade de recompensas de néctar do que pela cor da flor, com atividades significativas de polinização ocorrendo apenas durante o estágio de flor verde. Ao contrário de muitas outras espécies de plantas em que flores vermelhas atraem polinizadores, nesta espécie específica de planta, flores vermelhas são parte do processo de envelhecimento da planta e não atraem polinizadores. Portanto, os polinizadores preferem visitar flores verdes porque elas têm mais néctar.
No geral, esta pesquisa ressalta a influência significativa das condições ambientais nas estratégias de polinização de Oenothera epilobiifolia. Características das flores, como tamanho e néctar, variam dependendo da altitude, mostrando como o ambiente e a altitude moldam essas características e interações com polinizadores. Plantas em altitudes mais altas compensam menos polinizadores tendo mais flores agrupadas. Em altitudes mais baixas, flores maiores com néctar mais doce atraem mais polinizadores e produzem mais sementes quando os polinizadores estão por perto. Essas descobertas fornecem insights cruciais sobre como as plantas se adaptam ao seu ambiente e apontam o papel vital dos polinizadores na reprodução das plantas.
LEIA O ARTIGO:
Rodríguez‐Sánchez, GT, Pelayo, RC, Soriano, PJ, & Knight, TM (2024). Variação intraespecífica na ecologia da polinização devido à heterogeneidade ambiental altitudinal. Ecologia e Evolução, 14(6), e11553. https://doi.org/10.1002/ece3.11553
Victor HD Silva é um biólogo apaixonado pelos processos que moldam as interações entre plantas e polinizadores. Atualmente, ele está focado em compreender como as interações planta-polinizador são influenciadas pela urbanização e como tornar as áreas verdes urbanas mais amigáveis aos polinizadores. Para mais informações, siga-o no X como @another_VDuarte
Versão em português de Victor HD Silva (em andamento).
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