Um estudo realizado por Linda Neaves e colegas, publicado no American Journal of Botany, combina análise genética e medições foliares para descobrir linhagens enigmáticas em paubrasilia echinata, conhecido localmente como pau-brasil ou pau-brasil. Esta pesquisa oferece novas informações sobre o pau-brasil, uma árvore culturalmente importante no Brasil, mas ameaçada de extinção na natureza
O estudo encontrou cinco grupos geneticamente distintos de pau-brasil, não apenas as três variedades anteriormente reconhecidas com base no tamanho das folhas. Dois grupos combinaram com tipos raros de folhas grandes e médias, mas a forma comum de folhas pequenas se dividiu em três linhagens. O tamanho das folhas variou 35 vezes, mas não correspondeu perfeitamente aos padrões genéticos, mostrando uma diversidade críptica.
Pau-brasil habita o Brasil Mata Atlântica, que é altamente fragmentado. Anteriormente, a exploração de seu corante vermelho o colocava em perigo. O nome vem da palavra portuguesa para brasas, referindo-se ao cerne vermelho historicamente usado para fazer corante vermelho para têxteis. Esse “pau-brasil” deu nome ao Brasil e foi um importante produto de exportação a partir do século XVI. Hoje o pau-brasil é cultivado como árvore ornamental e fonte de madeira para arcos de violino, mas a sua diversidade selvagem pode não ser protegida.
Os pesquisadores coletaram amostras em toda a extensão da árvore e analisaram as relações genéticas usando sequenciamento RAD. Eles também mediram características foliares em espécimes de herbário. A combinação dessas abordagens revelou os cinco grupos genéticos, que estavam mais relacionados à geografia e à ecologia do que tamanho da folha. Neaves e colegas escrevem:
Ao combinar dados morfológicos e genéticos de toda a distribuição existente de paubrasilia echinata, encontramos evidências de pelo menos cinco linhagens geneticamente distintas na fragmentada Mata Atlântica do Brasil. Essas linhagens genéticas são altamente estruturadas geograficamente e, embora algumas pareçam corresponder aos morfotipos de folíolos “Laranja”, “Café” e “Arruda” previamente definidos, descobriu-se que indivíduos do norte do Brasil possuem características foliares que se sobrepõem tanto aos “Café ” e morfotipos “Arruda”. Investigações adicionais sobre as diferenças morfológicas entre subpopulações de P. echinata deve abster-se de usar os três morfotipos tradicionalmente definidos relacionados ao tamanho dos folhetos, mas sim focar na maximização da conservação de todas as cinco linhagens detectadas neste estudo.
Neaves et al. 2023
As descobertas sugerem que as árvores cultivadas de pau-brasil representam uma diversidade genética limitada. Mais populações deveriam ser protegidas para conservar este ícone cultural, especialmente as formas mais raras do sul que não estão actualmente em reservas. Compreender as relações evolutivas e a diversidade funcional auxiliará na conservação das espécies e da Mata Atlântica. Neaves e colegas concluem:
As duas linhagens que necessitam mais urgentemente de mais investigação e conservação são os grupos mais raros e menos conhecidos “Café” e “Laranja”, que representam linhagens evolutivas distintas e ocorrem em tipos de florestas diferentes das outras populações. Se esses morfotipos devem ser formalmente reconhecidos como táxons infraespecíficos distintos é uma questão constante. Mais trabalhos são necessários sobre o morfotipo “Laranja” para entender o quão difundida é esta linhagem genética aparentemente rara, e se a hibridização com uma segunda linhagem evolutiva da Bahia é um fenômeno natural ou o resultado da introdução humana de diferentes genótipos de P. echinata em toda a distribuição geográfica da espécie. Uma melhor compreensão da fonte original de árvores cultivadas individuais em ambientes urbanos e plantações de cacau, e sua relação com espécimes silvestres de populações fragmentadas, ajudará a orientar estratégias de conservação para Pau Brasil.
Neaves et al. 2023
LEIA O ARTIGO
Rees, M., Neaves, LE, Lewis, GP, de Lima, HC e Gagnon, E. (2023) “Phylogenomic and morphological data reveal hidden patterns of diversity in the national tree of Brazil, Paubrasilia echinate," American Journal of Botany. Disponível em: https://doi.org/10.1002/ajb2.16241.
Capa: Leguminosas arbóreas raras de pau-brasil, São Paulo. Imagem: Mauroguanandi/Wikimedia Commons.
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